quinta-feira, 12 de novembro de 2009

O Figurino



Na encenação contemporânea, o figurino tem papel cada vez mais importante e variado, tornando-se verdadeiramente a segunda pele do ator. (Pavis,1999,p.168)
Hoje na representação, o figurino conquista um lugar muito mais ambicioso, multiplica suas funções e se integra ao trabalho de conjunto em cima dos significantes cênicos.

Patrice Pavis em seu Dicionário de Teatro ( 1999,p169) diz que a escolha do figurino sempre procede de um compromisso e de uma tensão entre a lógica interna e a referência externa:jogos infinitos da variação da indumentária, o olho do espectador deve observar tudo o que esta depositado no figurino como portador de signos, como projeção de sistemas sobre um objeto-signo relativamente á ação, ao caráter, à situação, à atmosfera.
O Figurino não serve apenas para embalar o ator, há que ter nele um maior significado, criar uma relação com o corpo do ator, tem que estar ligado também a palavra.

Em Camille Claudel, o figurino foi construído por cada ator, manualmente, costurado, amarrado, a medida em que descobriam facetas novas da personalidade de cada personagem um novo caminho era estabelecido com esse figurino.
A matéria prima para esses figurinos, como dito anteriormente já vinha carregada de significados. Foram pertences de inválidos e já carregavam em si uma história,uma tristeza. Era um material manchado, sujo, desbotado pelo tempo. Coube então a cada ator preparar seu figurino a partir da personalidade de cada personagem.
Nesse processo o figurinista auxiliava esta construção, participando ativamente com os atores deste processo, um processo a quatro mãos. Esse auxílio servia à percepção do que estava em excesso, o que poderia atrapalhar a movimentação, o que faltava para uma melhor composição e a linguagem entre todos.

O Figurino deveria lembrar os vestidos de época usados por Camille Claudel no final do século XIX, as blusas e calças sociais usadas por Rodin e seus aventais. Mas também deveria carregar um pouco da história pessoal de cada personagem e da situação vivida por eles no hospício, mangas longas que lembrassem camisas de força e velhas camisolas.
Quantas histórias estariam costuradas em um mesmo figurino? Quantas pessoas estariam ali, presas aqueles panos e trapos?

Acredito que vestir um figurino traz consigo um passado e um presente, visto estarmos construindo essa história ainda hoje. Isto é riquíssimo, não há um desconforto enquanto ator-figurino, não há o processo frio de experimentação do figurino que antecede geralmente uma estréia, não neste processo. Eles estavam presentes no ensaio, na construção do espetáculo, é a roupa do personagem, usada e criada por ele desde o seu surgimento.
O processo estabelecido com o figurino auxiliou-me na construção estética do espetáculo, tanto na forma de construção, quanto a resultado estético.





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