quinta-feira, 12 de novembro de 2009

A Esquizofrenia, a Histeria , o Trauma e a Loucura

No caminho do processo de montagem do espetáculo, nos deparamos com uma montagem do Grupo XIX de Teatro de São Paulo, que montara um espetáculo que tinha a histeria como fundo para sua dramaturgia, curiosos sobre este processo e a questão do estudo da mulher no final do séc XIX, início do séc XX (época do internato de Camille) nos deparamos com um estudo que vinha de encontro a nossa pesquisa.
Estudamos sintomas e imagens sobre a Histeria que utilizamos na construção do espetáculo.
Camille Claudel foi diagnosticada no hospício como portadora de esquizofrenia paranóide, segundo O professor Elias Celso Galvêas , Consultor Pedagógico da área de Projetos Especiais do SENAC-ARRJ, e coordenador geral da Professores Associados – Consultoria Educacional(artigo ABC da Saúde,2009), “Esquizofrenia Paranóide” é uma modalidade de esquizofrenia que pode ser vista como uma significativa perda de contato vital com a realidade, através do relaxamento das formas usuais de associação de idéias. Toma forma (ou aspecto) de paranóia, vista, por sua vez, como o aparecimento de ambições desmedidas (suspeitas) que evoluem, geralmente, para mania de grandeza (megalomania), aliada a delírios persecutórios. No entanto, é interessante observar que apesar de ser observado o relaxamento das formas usuais de associação de idéias (característico da esquizofrenia), os sentimentos de perseguição e megalomania são, freqüentemente, estruturados sobre base lógica.
A Esquizofrenia é uma doença mental grave que se caracteriza classicamente por uma coleção de sintomas, entre os quais avultam alterações do pensamento, alucinações, delírios e embotamento emocional com perda de contato com a realidade, podendo causar uma disfunção social crônica,se caracteriza por uma desorganização ampla dos processos mentais. É um quadro complexo apresentando sinais e sintomas na área do pensamento, percepção e emoções, causando marcados prejuízos ocupacionais, na vida de relações interpessoais e familiares.
Nesse quadro a pessoa perde o sentido de realidade ficando incapaz de distinguir a experiência real da imaginária.
O paciente esquizofrênico fala de maneira ilógica e desconexa, demonstrando uma incapacidade de organizar o pensamento em uma seqüência lógica.
Podem ter alterações de comportamento, ser impulsivos, agitados ou retraídos, muitas vezes apresentando risco de suicídio ou agressão, além de exposição moral, como por exemplo falar sozinho em voz alta ou andar sem roupa em público.
Os principais subtipos são:
Paranóide (predomínio de delírio e alucinações)
Desorganizada ou hebefrênica ( predomínio de alterações da afetividade e desorganização do pensamento)
Catatônico (alterações da motricidade)
Simples(diminuição da vontade e afetividade, empobrecimento do pensamento, isolamento social
Residual ( estágio crônico da doença com muita deterioração e pouca sistematologia produtiva)

Por mais que a Histeria fugisse do quadro cliníco de Camille, na construção de algumas personagens pelas atrizes a histeria se encaixava, tanto pela repressão sexual, quanto pelas imagens vistas de ataques histéricos e suas contorções, como as imagens vistas abaixo:



Fase de contorções


O termo histeria foi utilizado por Hipócrates, que pensava que a causa da histeria fosse um movimento irregular de sangue do útero para o cérebro, e se refere a uma neurose complexa caracterizada pela instabilidade emocional. Os conflitos interiores manifestam-se em sintomas físicos. Pessoas histéricas freqüentemente perdem o autocontrole devido a um pânico extremo. Foi intensamente estudada por Jean- Martin Charcot e Sigmund Freud.
É um erro, considerar que a histérica quer sexo e que estaria curada se estivesse satisfeita sexualmente, a histeria pelo contrario, caracteriza-se pela recusa ao sexo.
A Histeria é uma anomalia do sistema nervoso que se fundamenta na distribuição diferente de excitações, possivelmente acompanhada de estímulos.
Freud desenvolve, no caso Dora, dois aspectos do sintoma histérico. O primeiro é que o sintoma é o tecido da linguagem, e o segundo é que o lugar do sintoma é o deslocamento da zona erógena.
O sintoma Histérico encontra-se em dois lugares: na mente e no corpo.Uma cena traumática deixa uma marca, e o que demonstra a psicanálise é que o inconsciente, estruturado como uma linguagem, está no corpo.
No dicionário Aurélio histeria seria afecção mental cujos sintomas se baseiam em conversão, caracterizada por falta de controle sobre atos e emoções, ansiedade, sentido mórbido de autoconsciência, exagero do efeito de impressões sensoriais e por simulação de diversas doenças.
A personagem da atriz Cassandra Tavares assim como no estudo do caso de Dora de Freud, que guarda um trauma por ser agarrada quando adolescente, sentindo uma pressão no peito causada pelo pênis do Sr K, a personagem Marie, não gosta de gritos e apertos por ter sido violentada pelo pai quando pequena.
Todos os personagens criados passam por um trauma psicológico que é um tipo de dano emocional que ocorre como resultado de um algum acontecimento. Um trauma pode, freqüentemente, violar as idéias do indivíduo a respeito do mundo, colocando o indivíduo num estado de extrema confusão e insegurança.

Na Construção da personagem Cristhine, personagem que supostamente se encontra no mesmo asilo de Camille Claudel da atriz Sarah Veríssimo percebemos que sua personagem tem um trauma como relata...
(...) meus pais morreram na minha frente, sem eu poder fazer nada, eu era pequena e estávamos indo passar as férias na cidade onde mamãe nasceu, mas no caminho papai perdeu o controle do carro e caiu em um rio, eu, como era pequena consegui escapar, mas meus pais não, eles não conseguiram sair e morreram na minha frente(...) Hoje se vejo um rio, mar, ou qualquer lugar que tenha muita água me apavoro, fico descontrolada(...)
Marcelo Wallez, ator, na construção do personagem Pablo, coloca-se como o algoz e não como vítima, ele violenta a filha pequena e a mata, carregando sua boneca que lhe traz culpa, mas, também, prazer. No livro de Antonio Quinet, a Lição de Charcot, Quinet abre a possibilidade de uma teoria para a histeria masculina, a retenção do esperma, que provocaria torpor, melancolia e distúrbios orgânicos funcionais ( que mais tarde se encontrarão sob a rubrica de hipocondria). Na construção da Atriz Juliana Sucylla, sua personagem , orfã, se prostitui como sobrevivência, mas o sexo é feito com repulsa, por ela amar uma mulher. Ela mata alguns clientes e repele outros por ver neles o rosto da mulher amada e proibida.
Sabemos que a loucura é vista diferentemente dependendo do século e sociedade, cria-se para o espetáculo construções dos personagens baseada nos dramas da época de morte de Camille Claudel, mil novecentos e quarenta e seis.
Há uma frase da escritora inglesa Virgínia Wolf que traduz a situação da mulher, ela refere-se a mulher no século XVI, mas mostra que a condição da mulher não muda nesses três séculos, Virginia Wolf, assim como Camille sofreu de perturbações mentais, e suicidou-se em um rio em 1941.

Qualquer mulher nascida com um grande talento no século XVI teria certamente enlouquecido. Ter-se-ia matado com um tiro, ou terminado seus dias em algum chalé isolado, fora da cidade, meio bruxa, meio feiticeira, temida e ridicularizada. Pois não é preciso muito conhecimento de psicologia para se ter certeza de que uma jovem altamente dotada que tentasse usar sua veia poética teria sido tão obstruída e contrariada pelos outros, tão torturada e dilacerada pelos seus próprios instintos conflitantes que teria decerto perdido a saúde física e mental. (WOOLF. P. 64-65)



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